sábado, 20 de agosto de 2011

EM NOITE HISTÓRICA A ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE GRAVATÁ HOMENAGEOU O Dr. DANIEL MUNDURUKU UM DOS MAIORES ESTUDIOSOS DOS POVOS INDÍGINAS

Foi um evento inesquecível e contou com a presença de figuras ilustres da sociedade gravataense como as professoras Sunamita Oliveira, Dilsa farias, Roseane Teles, Edite Gomes, Sandra Moares, representando a secretaria de Educação, Ana Alice da escola Pequeno Príncipe, do professor Lamartine Filho, do ambientalista Mário Alves do IESA, do Dr. José Lira do Lirex, além de vários acadêmicos entre os quais destacamos: Josias Teles, Tomaz de Aquino, Terezinha Carvalho, João Gabu, Gibson Fontes, Vilma Monteiro, Célia Soares e José Agostinho.

O presidente da Academia de letras e Artes de Gravatá – Josias Teles destacou a importância do evento para a ALAG e foi seguido do Dr. Lamartine, médico, escritor e membro da Academia de Letras de Salvador, filho do saudoso acadêmico Lamartine de Andrade Lima, fez a saudação oficial ao homenageado destacando traços da cultura indígena, da história do Brasil e das qualidades do peofessor Daniel Munduruku. Continuando a professora Sunamita Oliveira destacou a sua paixão pela temática dos povos primitivos brasileiros afirmando ser sua preocupação maior o interesse em fazer com que as pessoas se aproximem da cultura indígena, descobrindo as similitudes com a nossa e descobrindo uma forma de quebrar preconceitos e paradigmas.

Com poucas palavras, mas de forma emocionante o professor Daniel Munduruku agradeceu a homenagem e dedicou-a aos seus ancestrais, seus pais, seus avós e aos povos indígenas. Afirmou que a sua missão como estudioso, pesquisador, historiador está muito mais ligada a necessidade de promover o resgate da importância desses povos nativos do Brasil, como um instrumento lapidado pelos antigos mestres, para ajudar na conscientização, para produzir e mostrar o pensamento indígena. Disse que o mérito não era dele, que não queria ser o dono do conhecimento e que era fruto da luta dos antepassados e por isso oferecia a eles, aos espíritos das florestas, aos animais e as plantas nossos parentes, porque são eles os responsáveis por tudo isso e apontou para seus livros.

Mostrou que sente orgulho de ser o representante de um dos 250 povos indígenas do Brasil, que já foram cinco milhões e hoje não passam de 750 mil, num verdadeiro extermínio em pouco mais de 500 anos. Alertou para a necessidade de se entender que a cultura indígena, a história desses povos é algo muito maior e não cabe dentro de um conceito denominado de “índio” e muitas vezes utilizado de forma pejorativa e preconceituosa, desconhecendo os elementos históricos e a riqueza do processo histórico, não dando o devido tratamento e sem olhar a diversidade de cada grupo étnico, de cada povo indígena brasileiro, considerando e respeitando as diferenças existentes de um povo para outro, preservando as suas identidades.

O Professor e Dr. em Educação Daniel Munduruku recebe homenagem na ALAG e fala para acadêmicos e convidados


Dr. José Lamartine Filho fez a saudação ao Dr. Daniel Munduruku numa noite memorável na ALAG


Saudação do Acadêmico José Lamartine Filho ao Ilustre Dr. Daniel Munduruku

HOMENAGEM DA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE GRAVATÁ AO DOUTOR DANIEL MUNDURUKU, ATRAVÉS DA PALAVRA DO ACADÊMICO LAMARTINE DE ANDRADE LIMA

Ilustríssimos
Senhores Presidente da ALAS e componentes da mesa,
Senhoras e senhores Acadêmicos,
Senhoras e senhores convidados,
Senhor Doutor Daniel Munduruku,

Hoje, dia 18 de agosto de 2011, esta Academia tem a rara oportunidade de recepcionar, homenagear e ouvir um líder de um povo das culturas autóctones mais antigas das Américas.
O intelectual Daniel Munduruku é diplomado em Filosofia, História e Psicologia e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Diretor-presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual, escritor de difusão internacional premiado e Comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República do Brasil.
Senhor Comendador,
Faz trezentos anos este lugar onde moramos, no alto de uma serra e atravessado por um rio, foi habitado por uma das tribos de índios da Zona da Mata e do Agreste, os Coropotó, também denominados Coroado, que não falavam a língua geral tupi e sim o ramo puri, e o chamavam de Crauatá, terra de plantas espinhosas. Nos dias que correm não existem mais aqueles indígenas nem conhecemos os seus descendentes. É uma amostra do que aconteceu com grande número de aborígines, isto é, aqueles que vêm desde a origem de nosso País. Os que resistiram e sobreviveram são heróis étnicos.
Minhas senhoras e meus senhores,
No mundo de hoje são falados mais de dois mil idiomas e seus dialetos. No Brasil, entre as 250 nações indígenas, todas ágrafas, são utilizadas 180 línguas. Na família lingüística macro tupi, está uma delas, tonal e melódica, que é preservada pela etnia Mundurucu (palavra que quer dizer “formigão”) e ensinada através do método bilíngüe nas unidades vinculadas ao setor de educação escolar indígena da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação.
Dentre os 35 grupos de índios brasileiros que tiveram transpostas as suas pronúncias para a escrita, os Mundurucu foram o 14º a receber, através do Conselho de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, uma versão do Novo Testamento, no ano de 1980.
Eles constituem uma tribo de índios de estatura elevada e compleição forte, hoje com cerca de doze mil pessoas, que ocupam trinta aldeias em um largo território de quase dois milhões e 400 mil hectares, nos pontos sudeste da fronteira do estado do Amazonas e sudoeste da fronteira do Pará e norte do Mato Grosso. Estão numa rica área potamográfica, abaixo da margem direita do Rio das Amazonas, entre os seus afluentes Rio Madeira e Rio Tapajós, alcançando até o Rio Juruena.
São conhecidos desde o século XVII e registrados pelo homem branco desde o século XIX, quando foram contatados pela primeira vez, ainda na época do Brasil Colônia, em 1820, e houve maior aproximação depois de meio século, durante o segundo Reinado, no ano de 1875. Essa nação indígena, sob a égide da Fundação Nacional do Índio, do Ministério da Justiça, tem hoje cortando o seu território duas estradas federais – as BR-163 e BR-230 –, a vigilância de guarnições do Exército Brasileiro e a atividade de missões religiosas, porém os próprios índios continuam a sua importante ação preservacionista da Natureza, resistindo ao garimpo predatório e a pesca ilegal e danosa e mais a inundação de 35 % das suas terras pelas barragens do Complexo de Usinas do Tapajós.
Sua origem civilizatória longínqua está, há mil anos, na Cordilheira dos Andes, de onde lhes veio a influência, diluída pelo tempo, da mais velha das culturas da América do Sul, hoje extinta, que precedeu as também desaparecidas civilizações superiores dos Astecas, dos Maias e dos Incas, a cultura denominada Chavin de Huantar, aparecida nas margens dos subafluentes do Rio Marañon, que mais abaixo recebe o nome de Amazonas.
Permitam que, pelo que se chama de tendência profissional de um velho cientista forense, a guisa de exotismo, cite que, no passado, os Mundurucu foram terríveis guerreiros, com o rosto pintado de preto e no corpo tatuadas linhas pretas e vermelhas – produzidas pela cicatrização de incisões superficiais sobre as quais gotejavam seiva de jenipapo e tucum.
Guerreavam ferozmente, matavam seus inimigos, retiravam-lhes a cabeça e – através de um processo de esvaziamento endocraniano, arrancamento dos dentes e, com incisões profundas, retirada dos ossos cranianos, mais aplicação de areia quente e defumação especial nas partes moles – reduziam-nas a 30% do seu volume, exceto os cabelos que conservavam no tamanho original.
Isto lhes valeu a denominação de “caras pretas” e “caçadores de cabeças”, que compartilhavam com os índios jivaros, das selvas montanhosas do Equador e do Peru, de quem o Imperador Dom Pedro II teve algumas peças em sua coleção de curiosidades.
Atualmente a manifestação artística mais conhecida dos Mundurucu é caracterizada, principalmente, pela escultura de pequenas figuras de animais, como tartarugas, em sementes de tucum, com as quais fiam colares e pulseiras.
Hoje, embora eles, em sua maioria, continuem caçadores, pescadores, agricultores de mandioca, coletores de sementes e frutos como o da castanha-do-pará e extratores de látex da seringueira, que negociam, mantendo relações comerciais com regatões e compradores de produtos regionais; alguns trabalham como operários mineradores, e outros buscam a educação intercultural.
Estes alcançam realizar estudos acadêmicos, inclusive existe, na Universidade Federal do Amazonas, um curso específico de licenciatura em preservação das tradições e do idioma Mundurucu, para formação de educadores daquele povo, e na Universidade do Mato Grosso do Sul, um curso Normal Superior oferecido aos aborígines.
Todavia, também investem na formação cultural em diversas outras áreas de nível superior, como é o caso de nosso ilustre visitante, que é conferencista, articulista e escritor de 33 livros.
Em nosso País, além do Doutor Daniel Munduruku, existem mais notáveis intelectuais indígenas, como Marcos Terena, Airton Krenak, Daniel Derpó, Darlene Taukane, Eliane Potiguara e Kaká Werá, entre outros, que são respeitáveis pelo seu trabalho de defesa dos direitos indígenas, cultivo da tradição e dos mitos tribais, e transmissão dos conhecimentos de seu povo, que conduzem a sabedoria dos ancestrais.
Feita esta apresentação geral, prezado visitante, estamos aqui para conhecê-lo e ouvi-lo. Seja muito bem vindo.
E complemento em língua Mundurucu: “Xibat? Cum wuiju!” (Tudo bem? Vamos juntos!).
A palavra é sua.

Mensão Honrosa para Dr. Daniel Munduruku na ALAG


O presidente Josias Teles, a acadèmica Terezinha Carvalho e o acadêmico José Agostinho entregam réplica do brasão da ALAG ao Dr. Daniel Munduruku


A Presença do Dr. Daniel Munduruku na ALAG, contou com presenças de convidados ilustres